segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Mombojó + China =

Fui ao show do Mombojó e do China, no último sábado (13), no Studio SP. A Dona Guta, felizmente, ainda presenteia São Paulo com boas casas. Caso do Studio, cuja estrutura e ambiente põem mais próximos artistas e espectadores, espectadores e espectadores, espectadores e arte. O requisito básico pra entrar, pelo menos no line-up do mês, é que o artista esteja realmente colado em sua expressão. Aí é baba pro Mombojó. Descobri que pro China também.

Começando pelo sino-pernambucano que nunca tinha ouvido. Acompanhado da HStern Band — de ouro maciço e com lapidação no porvir —, China me estufou duma música digna da galera recifense-olindense. Pois essas são as cidades satélites do melhor rock (só?) que se produz no Brasil. E isso não é de hoje. O Camisa de Vênus foi a ponta de um inselberg. O corpo viria com o manguebeat de Chico, Nação e Mundo Livre. Dali pra frente o vento tomou de conta e fez o favor de espalhar as sementes da boa música. Brotou China, Mombojó, Cordel do Fogo Encantado, Bonsucesso Samba Clube, Eddie, Fóssil, Catarina dee Jah — as duas últimas ainda para serem escutadas pelo blogueiro.

O som de China é cheio de samples e riffs que se confundem. Pode ser electro house, new rave ou o que for: o eletrônico é a face-mor das novas influências, caracterizada pelo abraçar de uma tecnologia e o regurgitar novo desta — como fizera Lúcio Maia nos longínquos anos 90. Parece mesmo uma evolução do New Wave, bem perceptível em Câncer.

Votem no cara pro VMB: http://mtv.uol.com.br/vmb2008/cat_aposta.html


Falando em guitarrista, foi em Asas nos Pés que ouvi a pancada chinesa. Ora fazendo a linha melódica, ora passando o bastão pros samples, a guitarra é de acordes agressivos e intermitentes. Faz o tom potente da música. A bateria não lembra em nada o tambor do Maracatu. Não fosse a marcação de tempo e compasso difusa e quebrada. Pra completar a cozinha, o baixo sutil e, como não se tem visto ultimamente, presente em toda a música. Alicerce das horas necessárias.

Nos pés de China também deve ter algo mesmo, quem sabe asas. O cara tem uma dancinha inigualável, meio Jamiroquai, meio mestre-sala, meio ataque epilético. Tão personna quanto sua cantoria. Simples e voraz, daquela que quer alcançar todo mundo que está por perto sem nenhum floreio. A canção de Roberto Rei Carlos, Não quero mais seu amor, ficou pequena pra ele. Suas composições vem igualmente carregadas de uma megalomania bem chinesa. Na singeleza de cada coisa, como dormir e acordar, cai-se sobre um território vasto de sentimentos e sensações. Maior que a China, esse espaço da poesia é sempre explorado, mas nunca visto em sua infinitude. Tomara que o pernambucano continue nesta aventura, pois ainda há muito o que descobrir. Não só nas letras, mas também na melodia.

Finito o show do China, veio Mombojó. Veja bem, não foi assim: acaba uma coisa, respira, começa outra. Foi de lambuja China + Mombojó. Uma coisa junta na outra e dá nisso. O entrosamento entre os caras só valeu mais o ingresso. Digo que essa turma de meus conterrâneos de ascendência (existe isso?) ainda vai dar muito mais caldo.

Felipe: agora a gente é radiola de ficha?, sobre o esganiçado insistente por Duas Cores.


O show do Mombojó eu já tinha visto numa outra vida deles pra sampa. Foi em dezembro do ano passado, na choperia do Sesc. Dia bom. Logo de cara admirei as possibilidades levadas a cabo pelos caras. Rock novo, samba em toda a sua marcação, a suavidade do sopro, a ecleticidade sampleada. As letras vêm fácil, como em China, sem deixar a poiese. Foi tudo isso que vi em show. Confesso que não foi com todos os watts da primeira vez. Muitas músicas eram do segundo álbum, que não é de muito meu agrado (prontofalei). Nem por isso a performance foi menor. De lá pra cá o que vi foi um trabalho pensado em cima do som, das enes possibilidades — novamente elas. Algumas releituras e novos arranjos. Tudo que amplificasse a sonoridade de Felipe (bom nome) e companhia. Execuções memoráveis como Duas Cores (suplicado pela mina-mala-bêbada), Missa, Faaca O Céu, o Sol e o Mar me fazem esperar ansiosamente a próxima vinda deles.

Mombojó + China = música boa e dança peculiar...

Se todos os shows da noite (três, pra ser bem claro) se resumissem a uma música, seria mesmo a última. Olha que fechar com chave de ouro é difícil. China e HStern Band sobem ao palco para, junto de Mombojó, fazerem a maior concentração de recifenses e olindenses por metro quadrado da Augusta. Tocaram Deixe-se Acreditar. Dessa hora só consigo falar sobre o final, que demorou pra chegar. Que também o final do melhor do rock brasileiro esteja longe. A história da boa música nordestina esteja mais pra um romance que pra um cordel.

Obrigado ao Gian Lucca que gentilmente cedeu as fotos para serem postadas aqui!

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