terça-feira, 14 de abril de 2009

MTV, Get off the air (mas deixa a Bis e meu texto lá!)


"E é por isso que topei fazer um site no portal da MTV, e por isso que contratei a pessoa inteligente mais jovem que encontrei para me ajudar, e por isso o Bis é um site colaborativo, não um blog pessoal. O Bis é para fazer coisas que a MTV não faz - ainda. Abrir geral para quem tiver algo a dizer. Falar de música, sim, mas usar a música para falar do que interessa, da vida, da alma, da rua, da morte. Com texto, mas com som, com foto, com vídeo, com arte, feito por qualquer um, pela multidão."
e foi pra Bis o meu texto do Soil & Pimp postado há alguns dias aqui!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Deixe a melanina fluir. Deixa cair. Deixa balançar.

O título que coroa o post é inspirado na frase de um amigo com grandes aspirações de escritor. O rapaz tem aspirações a pé-de-valsa também. Ao som de Clube do Balanço, aliás, só não é quem não quer. Que digam as pessoas sambalançando na comportada sala do Itaú Cultural. Foi a cena do show do primeiro domingo do mês de abril, fim da micro-turnê da banda que destila balanço e o melhor da música negra pelo Brasil há um bom tempo. Do passado a maior lembrança foi Simonal, trazido ao palco por interprétes como Tereza Gama e a cria do genial rei do suíngue, Simoninha.

A chuva da outrora cidade da garoa quase afastou a galera que ia pro show. Não foi o caso, do contrário não haveria três sessões, uma seguida da outra. Todas foram abertas pelo DJ Gran Master Ney e pela Equipe Soft Fest, que aqueceram a galera com soul e funk, de James Brown a The JB’s. Cada um carrega anos e bailes com milhares de pessoas nas costas. Festas R&B e Samba Rock eram eventos grandiosos no fim dos anos 80: lotavam clubes esportivos com gente vestida na estica e soundsystem amplificadíssimos. “Um tempo bom, que não volta nunca mais”, mas nem por isso não pode ser lembrado — ou revisitado, como tem sido feito.



Também são responsáveis por isso bandas como Os Opalas, Farufyno e o próprio Clube do Balanço. Subindo ao palco ao som de Zula, o vocalista e guitarrista Marco Matolli já faz todo mundo sócio do Clube. O percussionista Fred Prince vem na marcação cadenciada do samba enquanto o batera Edu Peixe varia nos ataques a seus pratos. A metaleira só favorece ao balanço. O tom fica mais suave com A Sereia e o Marujo, mas a interpréte Tereza Gama faz questão de não deixar a peteca cair com seu vozerrão que sai fácil, fácil. Com a Equipe de dança do Moskito estaria mais do que feito o baile senão fosse a falta de um convidado de honra.

Simoninha que me perdoe, mas o convite mais célebre foi o de Simonal. A começar por “Vem Balançar”. Encantada por Elis e Simona, a canção é a receita de um arranjo imponente de sambajazz. Pro samba-rock, o Clube somou o trompete de Reginaldo 16 e o trombone de Tiquinho, mas perdeu muito enquanto subtraia a virtuose do piano e da bateria — no original, provavelmente, do Zimbo Trio ou Som3. Chegando Simoninha, Simonal está mais no palco do que nunca. Talvez na figura de Simoninha (é inevitável não juntar um no outro, ainda mais com trejeitos, o dar de ombros, o “deixa cair”), mas principalmente no seu melhor: a música.



Atualmente, o legado de Wilson Simonal é pouco conhecido pelo grande público. Aquele que chegou a ser um dos maiores (senão o maior) cantor do Brasil quase nunca é lembrado por sua herança à música brasileira: divisões harmônicas, voz melódica, arranjos orquestrados, etc. O presente dado por Simonal e pelos músicos que o acompanharam ao cancioneiro brasileiro foi em muito condenado ao ostracismo, tal qual ele mesmo — vítima de um “pessoa errada na hora errada no lugar errado”. Para o bem dos ouvidos, o rei da pilantragem e de muito mais tem sido relembrado ultimamente, junto dessa retomada dos bailes e da música negra autentica brasileira.

Assim, além de “Vem Balançar”, Clube, Tereza e Simoninha ainda interpretaram a brincalhona “Galha do Cajueiro” e o lado-B “Colecionador de Amigos”. O set list ainda contou com “Paz e Arroz” e “Balanço”. O espetáculo de dança do Moskito e o espetáculo da sua parceira são outros detalhes que deve ser lembrado. No mais, é só balanço.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ouvindo Frenético

O autor do crime, dessa vez, foi um amigo. A título de proteção não revelo o nome, embora por amizade eu tendesse a revelar. O fato foi que começou com uma frase, "to viciado nessa porra". Quando escuto isso já imagino as cenas. Em todas eu tenho curiosidade — e inevitável. Até perguntar ou experimentar, contudo, há dezenas de passos. Dessa vez eu corri com os dedos e logo perguntei, "qualé a boa?". Ele me passa um link e a merda está feita. Viciei. Sou suscetível demais quando a coisa é boa. Acertei na pergunta e na suscetibilidade. A bola da vez é Soil & "Pimp" Sessions.


Um bando de japoneses (e eu te devolvo a pergunta, Tas: para bem ou para o mal, que água eles bebem?) que se bandearam pro free jazz numa pancada só. Arrisco duas palavras: Freenetic Jazz. Veja bem, não é um rótulo, como Nu Jazz. Pra uma trupe de Tóquio que se conheceu em baladas, tem influências latinas e contam no quadro de integrantes com um agitador, isto é, diferente de vocalista, um rótulo é no máximo um detalhe nas suas roupas extravagantes — de fazer inveja ao Também Sou Hype.

Soil & "Pimp" Sessions já espanta pelo nome. Só consigo enxergar algum significado para Sessions. As canções pairam numa intuitividade que fica entre o aleatório e o caótico. Um, por sabermos as forças que impulsionam os improvisos, advindos de marcações de tempo perdidas no espaço (ou na tempestade, vide Storm); o outro, por nem imaginarmos onde tudo aquilo vai dar, como em Fantastic Planet, que bate num consistente hard bop de Nova Orleãs até cair numa boate em alguma ilha do caribe, tocando salsa ou rumba.


No caso do álbum Planet Pimp, a produção teve o trunfo de usar dosadamente efeitos eletrônicos, como se pode ouvir em Go Next! e The World Is Filled by... . A precaução afasta as canções de um fusion forçado ou ultrapassado. É apenas mais um artifício pra empolgação dos japoneses. Nessa loucura, por vezes eles mesmos se perdem: os arranjos quebram a harmonia ou ocorre tal grandiloquência que vira gritaria. E na hora da calmaria — a última faixa, Sorrow — não fazem mais do que um lounge bem xôxo.

O que interessa é que já carrego no bolso e parei de usar escondido. Não obstante, tô falando pra todo mundo aqui. Escute no último volume, mas depois não deixe sua mãe pensar que foi influência minha.